O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um distúrbio do neurodesenvolvimento, conhecido como desenvolvimento atípico. Apresenta-se como deficiências na socialização e comunicabilidade, manifestações de comportamentos que se repetem e com estereótipos que podem apresentar ações restritas de interesses por tarefas.
As causas do transtorno ainda não estão totalmente definidas. No entanto, acredita-se que são influenciadas por fatores genéticos e ambientais. O que se pode afirmar é que existem diversos níveis de autismo, por isso, é importante conhecer cada um deles e buscar práticas de inclusão.
Conversamos com Leonardo Constancio, Bacharel em Desenho Industrial e Ciências da Motricidade Humana e Pós-graduando em Psicomotricidade, Transtorno de desenvolvimento e estratégias de intervenção no TEA, que tirou algumas dúvidas sobre o assunto. Acompanhe a leitura!
Existem causas específicas para o autismo?
Leonardo explica que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1 a 2% da população, ou seja, cerca de 76 milhões de pessoas, encontram-se no Espectro do Autismo. No Brasil, 2 milhões de pessoas convivem com o autismo.
O quadro mais grave prevalece em meninos. Já em meninas, o autismo leve é mais comum, fato que leva a casos subdiagnosticados, por não se inserirem em um quadro estereotipado do espectro.
Ele reforça ainda que “o TEA é clínica e etiologicamente heterogêneo, sendo multiétnico e multifatorial”. Além disso, tem origem intrauterina de forte influência genética (68-94%) e Herdabilidade (70-90%), onde o gene já está presente na família.
Como identificar os primeiros sinais do autismo infantil?
Segundo Leonardo, os bebês típicos conseguem se comunicar com a mãe e se relacionar com os pais por meio de gorjeios, murmúrios e movimentos. Realizam contato visual, sobretudo com a mãe nos momentos de amamentação. Também estão atentos ao rosto das pessoas e seguem acompanhando os movimentos dos familiares e objetos usando os olhos.
Além disso, as crianças expressam sorrisos e são capazes de diferenciar, intencionalmente, os seus choros para comunicar fome, dor e sono. Também conseguem demonstrar felicidade e tristeza.
Bebês sem autismo franzem a testa, mexem a boca, balbuciam e imitem os sons que ouvem. Ainda tentam alcançar e pegar brinquedos pelos quais têm preferência. Eles expressam essa predileção ao seguir o objeto com os olhos.
Porém, é importante observar se a criança não responde a sons altos, não sorri e não olha para as pessoas, Note também se ela não observa o movimento dos objetos, não demonstra interesse pela face da mãe e do pai e não se importa em ficar sozinha.
Sinais para ter atenção
O especialista chama a atenção para observar os primeiros sinais de autismo na infância. É um ponto de alerta quando o bebê não consegue se separar de seu brinquedo ou objeto favorito sem algum sofrimento, não olha para onde você aponta, fica seletivo com relação a alimentos, chora muito ou é quieto demais e responde mal a mudanças de rotina.
Veja outros sinais:
- evita ou não faz contato visual;
- não demonstra interesse por pais ou cuidadores;
- não entende regras de jogos ou regras sociais;
- não empresta brinquedos;
- não entende ordens e tarefas simples;
- diz palavras sem funções;
- não sabe bater palmas;
- não sabe a função de utensílios simples;
- perde habilidades já adquiridas;
- apresenta comportamentos inapropriados, muitas vezes confundidos com “birra”;
- não para quieto;
- apresenta hiperfoco;
- tem dificuldades com mudança de rotina;
- senta-se com as pernas em W;
- anda na ponta dos pés ou pulando;
- cai muito;
- não relata ou tem dificuldade de contar eventos passados;
- não brinca de faz de contas e tem dificuldades de abstração;
- não entende o conceito de “EU” e “VOCÊ”;
- não consegue dizer seu nome e sobrenome;
- não faz desenhos, não escreve nem consegue escovar os dentes.
Quais os principais sintomas do autismo (TEA)?
Constancio listou os principais sintomas do Transtorno Espectro Autista. Veja quais são:
- distúrbio do desenvolvimento cognitivo sensório e motor;
- fuga da realidade para o mundo interior;
- prejuízo na qualidade do contato visual;
- falta de interação social, com atrasos ou desvios;
- pouca compreensão em linguagem figurativa, gestos ou expressões;
- ausência de expressões faciais e dificuldade de compreendê-las no outro;
- falta de empatia;
- baixa capacidade de fazer amizades;
- dificuldades em dividir interesses, criar laços e demonstrar emoções;
- conversação unilateral;
- foco intenso;
- insistência em rotina;
- pouca flexibilidade cognitiva;
- tendem a não fugir de padrões;
- pensamentos repetitivos;
- alteração no processo sensorial (hiper ou hipoatividade);
- hipersensibilidade aos estímulos do ambiente em uma ou mais portas de entrada — audição, olfato, tato, paladar, propriocepção e sistema vestibular;
- movimentos desordenados e/ou estereotipados;
- ecolalia ou déficit verbal, problemas de comunicação;
- atrasos significativos na aquisição da fala.
Existem quantos níveis de autismo?
Segundo Leonardo, até 2021 o autismo era apresentado em três níveis de gravidade em crianças, de acordo com a sua capacidade comportamental e de comunicação. Isso aponta diretamente em como a criança será funcional e o suporte necessário para o seu desenvolvimento.
Nível 1 (leve)
O profissional explica que “quando não há a presença de apoio, não há grandes déficits de comunicação, interação social e seus comportamentos não causam nenhum tipo de prejuízo notável. São bastante funcionais na presença de apoio. Não apresentam atrasos cognitivos, sensoriais e intelectuais e/ou de aquisição de fala significativos. Geralmente possuem quociente intelectual (QI) acima de 70”.
Nível 2 (moderado)
Nesse nível de autismo, a criança requer apoio substancial. Os prejuízos sociais são bem evidentes e os funcionais medianos, mesmo com a presença de apoio.
Nível 3 (grave)
Leonardo diz que, ao apresentar um quadro grave, a criança “exige muito apoio substancial, visto que há graves prejuízos funcionais. As crianças nesse nível possuem graves déficits nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal. Pode ser considerado um nível severo, pois está diretamente associado à deficiência intelectual e incapacidades nas habilidades/atividades da vida diária”.
O especialista reforça que, desde janeiro de 2022, segundo o CID 11, “não temos mais níveis de autismo. A CID 11 reuniu todos os transtornos que fazem parte do espectro do autismo em um único diagnóstico: Transtorno do Espectro do Autismo”, explica.
Quais as opções de tratamento do autismo em crianças?
Constancio ressalta que, em vista do Plano Individual de Tratamento (PIT), é importante apresentar informações psicoeducacionais para a família, profissionais da saúde e pedagogos que conhecem as especificidades da criança que deve receber o tratamento. Afinal, quanto mais informações, maior adesão ao tratamento adequado. “O tratamento deve ser sempre ético e com fundamentação científica”, reitera.
Durante o tratamento, a criança pode ou não usar medicamentos. As medicações podem ser um auxílio para comportamentos agressivos, de autoagressão, mutilações, TDAH, ansiedade etc.
São introduzidas, também, estratégias terapêuticas cognitivo-comportamentais, como modelo Denver de intervenção precoce, treinamento em habilidades sociais e outros procedimentos. Ainda podem ser adicionados outros acompanhamentos, como:
- terapia ocupacional;
- fonoaudiologia especializada;
- mediação escolar;
- enriquecimento do ambiente.
O profissional ainda comenta que “à luz da ciência não existem dietas para o tratamento direto do autismo, nem mesmo alimentos que causam o autismo. O que deve ser tratada é alguma intolerância alimentar específica”.
Por que identificar os graus de autismo logo cedo?
Constancio diz que intervenções e diagnósticos precoces fazem com que o quadro possa se modificar ao longo da vida conforme o desenvolvimento sensório-motor e cognitivo da criança. “Nos primeiros anos de vida, a capacidade do cérebro em se moldar e reestruturar conforme os estímulos e experiências vividas é muito mais intensa. Quanto menor a criança, maior será a velocidade nas formações de novas conexões cerebrais”, explica.
O especialista completa que “as intervenções precoces possibilitam melhores chances de formar novas conexões cerebrais referentes às habilidades almejadas”. O acompanhamento de um psicólogo, por exemplo, pode ser determinante no tratamento.
Percebeu como é necessário conhecer os níveis de autismo? A partir dessas informações fica mais fácil entender a relação de psicomotricidade e autismo.
Alguns exemplos dessa interação são brincadeiras lúdicas e brinquedos para crianças autistas, como confecção de desenho, pinturas, recortes, colagens e ações que envolvem inteligência, afeto e socialização. Vale ressaltar que o diagnóstico precoce tem grande influência no desenvolvimento infantil.
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