O medo de dormir no escuro é uma aflição comum durante a infância. Sabemos que os pequenos têm imaginação fértil e muitos medos infantis podem surgir dessa criatividade. Mas é importante ressaltar que isso está relacionado ao desenvolvimento das crianças e faz parte do processo de maturação.
Sentimos medo para nos proteger de situações de risco, mas é preciso entender que isso não deve chegar a um ponto extremo. Anna Beatriz Cardamone Ribeiro, psicóloga e psicopedagoga, conta que esse sentimento pode depender de diversos fatores e surge principalmente em crianças de 3 a 7 anos, mas também pode aparecer em outras faixas etárias.
Que tal entender um pouco mais sobre esse medo e aprender como ajudar os pequenos a superá-lo?
Até que ponto o medo do escuro é normal?
Não conseguir ver nada pode ser algo bem aflitivo, não acha? Se para alguns adultos o escuro já causa desconforto, imagine para crianças, que projetam seus medos e a escuridão parece ainda mais ameaçadora.
Contudo, nem sempre esse medo é real. Anna Beatriz explica que a frequência e intensidade variam de criança para criança, pois dependem de relações e vínculos estabelecidos com os cuidadores e o mundo externo. “A imaginação, tão presente nessa idade, pode ficar ainda mais aflorada no escuro, fazendo com que esse medo apareça”, acrescenta.
Às vezes, o que a criança diz ser medo do escuro é, na verdade, apenas uma dificuldade em dormir, ao qual ela associa à escuridão. Por isso, é interessante entender as razões por trás desse temor. Alguns casos chegam à fobia, em que essa aflição é intensa e causa sofrimento.
Por que as crianças têm medo de dormir no escuro?
O medo do desconhecido aflige até os adultos, imagine como pode afetar a cabecinha das crianças!
Para os pequenos, o medo de dormir no escuro diz respeito ao temor do desconhecido, o receio de enfrentar situações desafiadoras, muito por conta dos conteúdos assustadores que podem surgir com o escuro. Isso porque a criança pequena ainda não consegue separar a fantasia da realidade.
Nesse sentido, os conteúdos podem ter relação com os contos de fadas, em que aparecem monstros, fantasmas e bruxas ou com alguma informação da qual a criança teve acesso, causando medo. A psicóloga e psicopedagoga Anna Beatriz afirma que “a escuridão representa uma ameaça quando a criança não consegue controlar aquilo que não vê ou não compreende”.
A verbalização dos medos da criança
Nem sempre os pequenos sabem como explicar seus sentimentos, de onde esse medo vem e por que estão sentindo. Dessa forma, a conversa auxilia a esclarecer para a criança sobre o que ela teme. Assim, por meio do diálogo é possível contar que esses medos não são reais e ela está segura.
“Verbalizar os medos e angústias é uma das formas possíveis para a criança identificar seus temores e entrar em contato com essa emoção. No momento em que é dito que ela está com medo, é importante acolher e ajudá-la a compreender o que está sentindo”, explica a psicóloga.
O medo de dormir no escuro pode estar relacionado, também, ao medo de ficar sozinho ou se separar dos pais, por exemplo. Por isso, além do acolhimento, é necessário observar a recorrência dessa angústia e possíveis mudanças no comportamento infantil.
Os medos costumam ser transitórios e passageiros, mas precisam ser administrados com a presença do pai, da mãe ou de algum cuidador. É importante que a abordagem seja feita quanto antes para evitar o desenvolvimento de ansiedade infantil.
Como ajudar a criança a perder o medo de dormir no escuro?
Esse é um medo que costuma ter diferentes origens. Nesse sentido, entender de onde parte o temor é o primeiro passo para buscar uma solução. Ou seja, mais uma vez, tudo começa pelo diálogo. Depois disso, os pais e a criança podem definir mudanças no ambiente que ajudem no enfrentamento desse medo, como deixar uma porta entreaberta no momento de ir dormir.
Além disso, Anna Beatriz aponta que é importante oferecer um espaço de escuta e confiança para que a criança compartilhe seus medos, não dizer ao pequeno que “não é nada”, mas acolher e tranquilizar.
“Os cuidadores podem contar suas experiências infantis, os medos que enfrentaram e como eles conseguiram superá-los, a fim de mostrar às crianças que elas não estão sozinhas neste processo”, exemplifica a psicóloga. Compartilhar dados de realidade aos pequenos também costuma ajudar, como contar que a vida que existe no claro é a mesma que acontece no escuro.
Outro ponto importante é verificar com a escola, local onde a criança passa grande parte do tempo, ou com outras pessoas envolvidas no desenvolvimento infantil (como avós, tios) se esses medos ou mudanças de comportamento também aparecem nesses espaços. A parceria e o alinhamento entre essas redes de apoio são valiosos para oferecer à criança ambientes de suporte e apoio emocional.
Quando buscar ajuda de um especialista?
Apesar de ser considerado um medo normal na infância, os pais devem procurar ajuda profissional quando notarem que o medo está prejudicando a vida cotidiana da criança, impedindo-a de realizar atividades que anteriormente eram de seu interesse.
Nem todas as crianças conseguem dizer que estão com medo do escuro, mas outros sinais podem demonstrar algo errado. Alguns exemplos são náuseas e enurese, além de mudanças comportamentais, sendo importante que os pais observem e se mantenham atentos.
Pequenas mudanças na rotina podem ajudar, como utilizar um abajur aceso no quarto. Já os medos excessivos podem trazer prejuízos para a rotina do pequeno, impedindo que atividades habituais sejam realizadas. Nesses casos de grande sofrimento, é importante buscar ajuda profissional.
A especialista explica que o trabalho do psicólogo infantil está relacionado à elaboração das angústias e traumas a partir de recursos lúdicos e simbólicos, como brincadeiras e desenhos. Anna Beatriz também diz que as crianças têm outras formas de comunicação, que diferem da expressão de sentimentos feita pelos adultos.
“O brincar é oferecido como um facilitador para a manifestação das emoções e do mundo interno infantil. Em casos de medo do escuro, por exemplo, é possível inserir, gradativamente, brincadeiras, leituras e atividades de faz de conta em que ele apareça, sendo possível enfrentar, elaborar e buscar soluções conjuntas para esse medo”, ressalta.
A partir dessas mudanças e da ajuda profissional, o medo de dormir no escuro é reduzido até que a criança não fique mais angustiada pela falta de luz. Portanto, é essencial perceber e cuidar dos pequenos desde os primeiros sinais, combinado?
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